quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O olhar que cura


A perda da fé talvez seja a maior tragédia para a vida humana. Não estou falando daquela fé no sentido estritamente religioso, e sim a fé em algo ou até mesmo em alguém, pois ela é a única coisa que nos mantém conectados e participantes na dinâmica da vida.
Quando ela foi perdida vê-se a vida por um prisma particularmente negativo, o que faz o sujeito a rejeitá-la assim mesmo como ela é, e fazer de tudo para não participar da realidade. Por medo e aversão, recuamos, nos isolamos e nos escondemos a fim de evitar o sofrimento. Mas é justamente esse recuo que o provoca, pois a única coisa capaz de curar nossas feridas chama-se eros (amor).
Quando eros aparece, nossa fé aumenta, pois já não existe tanto temor em enfrentar as situações que a vida oferece. A fé em nossa capacidade, a fé numa sabedoria superior, ou mesmo a fé em outra pessoa. Quando nos encontramos tão desprovidos desse sentimento o que nos resta é a sorte de que alguém nos olhe com amor e fé em nossa capacidade, para que essas dimensões voltem a brotar em nosso interior.
Como disse Madre Tereza, as pessoas boas merecem nosso amor, as más precisam dele. Não vou aprofundar aqui no mérito da questão entre “bom e mau”, mas vale a pena lembrar de que isso apenas diz respeito àquilo que é conveniente. Mas essa fala de Madre Tereza é fundamental para enxergarmos de que as pessoas mais isoladas, mais quebradas e por vezes mais arredias são justamente aquelas que mais precisam de um olhar de amor para curarem suas feridas.



Um mundo que não aceita frustrações




Por vezes me pego incomodada com algumas atitudes que vejo por aí, e hoje vou falar de uma relacionada à educação (no sentido de formação de caráter) infantil. Na década do “politicamente correto” parece haver um excesso de proteção aos pequenos, no sentido de que os adultos evitam ao máximo que eles entrem em contato com sentimentos “ruins”.
Coloco ruins entre aspas porque questiono essa classificação. Só porque algo não é conveniente ao ego não quer dizer que não tenha sua função. E assim vejo por exemplo as escolas promovendo jogos entre turmas, em que no final todos ganham medalhas. Ora, será que não estamos exagerando na política de merecimento gratuito de nossos filhos?
Com sinceridade vamos responder à essa pergunta: na vida é possível que um indivíduo realize coisas sem esforço ou habilidade naquilo que faz? Me parece que via de regra não. Então porque estamos emulando um mundo irreal aos nossos pequenos? Um dia eles vão crescer e vão ter que em alguma medida se adaptar à um mundo que também via de regra não dá nada de graça pra ninguém. Se você quer que seu filho seja capaz de realizações e de autonomia ele precisa entender a política do dever.
Até porque quando ganhamos tudo dos outros uma parte nossa se satisfaz, mas outra sente-se incapaz. Proporcionar auto-estima para as crianças não se faz apenas por presentes, roupas bonitas e elogios. Até porque esse tipo de estima fica sempre dependente do olhar do outro. Se faz principalmente pelo senso de capacidade de realizar e de amar e ser amado que um indivíduo pode ter.
Em algum grau, para que a criança possa crescer e transformar-se em um ser autônomo, há que se sacrificar em parte o instinto materno. O que quero dizer com instinto materno não é só aquele que brota nas mulheres que tiveram filhos, e sim em qualquer um de nós que deseja sempre providenciar tudo e proteger o outro do “sofrimento”. Seja esse outro filho, marido, esposa, amigos, alunos, pacientes, etc…

Proteger o outro é um ato de amor muito bonito, mas quando o privamos de seu crescimento perdemos o entendimento do nosso papel enquanto guias e orientadores para que essa vida possa florescer independente de nós.

Solidão infantil



Realidade em diferentes momentos e em diferentes espaços. A solidão infantil é algo que o adulto, quando anestesiado pela vida, torna-se incapaz de reconhecer naqueles pequeninos que estão tão próximos, e entregues aos seus cuidados.
Podemos tentar jogar a culpa em diversas coisas, como o tempo que passamos trabalhando, ou então a diminuição do número de filhos que as famílias possuem hoje, também nas sedutoras babás eletrônicas (tv e internet), ou ainda nos perigos de deixar as crianças conviverem com seus vizinhos e amigos de fora da casa. E essas dificuldades são reais, mas como diz a sabedoria popular, quem quer faz, quem não quer arruma desculpa.
Vejam bem pais apáticos: nada substitui o contato humano. E por contato humano não basta morarem sob o mesmo teto, é preciso que haja interação, diálogos, interesse, atividades em conjunto, brincadeiras… relações afetivas de qualidade!
Pais autoritários, prestem atenção: relação de mão única não existe. Se vocês tivessem realmente autoridade, não precisariam se valer do lema “cale a boca, quem manda sou eu!”. Para ter respeito é preciso ser admirado. Respeito se aprende mais por modelo do que por imposição.
Pobres crianças, tantos brinquedos e ninguém com quem brincar!!!


Fonte: http://www.terapiaemdia.com.br/?p=1462