quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Um mundo que não aceita frustrações




Por vezes me pego incomodada com algumas atitudes que vejo por aí, e hoje vou falar de uma relacionada à educação (no sentido de formação de caráter) infantil. Na década do “politicamente correto” parece haver um excesso de proteção aos pequenos, no sentido de que os adultos evitam ao máximo que eles entrem em contato com sentimentos “ruins”.
Coloco ruins entre aspas porque questiono essa classificação. Só porque algo não é conveniente ao ego não quer dizer que não tenha sua função. E assim vejo por exemplo as escolas promovendo jogos entre turmas, em que no final todos ganham medalhas. Ora, será que não estamos exagerando na política de merecimento gratuito de nossos filhos?
Com sinceridade vamos responder à essa pergunta: na vida é possível que um indivíduo realize coisas sem esforço ou habilidade naquilo que faz? Me parece que via de regra não. Então porque estamos emulando um mundo irreal aos nossos pequenos? Um dia eles vão crescer e vão ter que em alguma medida se adaptar à um mundo que também via de regra não dá nada de graça pra ninguém. Se você quer que seu filho seja capaz de realizações e de autonomia ele precisa entender a política do dever.
Até porque quando ganhamos tudo dos outros uma parte nossa se satisfaz, mas outra sente-se incapaz. Proporcionar auto-estima para as crianças não se faz apenas por presentes, roupas bonitas e elogios. Até porque esse tipo de estima fica sempre dependente do olhar do outro. Se faz principalmente pelo senso de capacidade de realizar e de amar e ser amado que um indivíduo pode ter.
Em algum grau, para que a criança possa crescer e transformar-se em um ser autônomo, há que se sacrificar em parte o instinto materno. O que quero dizer com instinto materno não é só aquele que brota nas mulheres que tiveram filhos, e sim em qualquer um de nós que deseja sempre providenciar tudo e proteger o outro do “sofrimento”. Seja esse outro filho, marido, esposa, amigos, alunos, pacientes, etc…

Proteger o outro é um ato de amor muito bonito, mas quando o privamos de seu crescimento perdemos o entendimento do nosso papel enquanto guias e orientadores para que essa vida possa florescer independente de nós.

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