Devemos
lembrar que o estresse é cumulativo, assim como não podemos deixar de citar o
workaholic, termo que se originou da palavra inglesa alcoholic, que significa
alcoólatra, com a palavra work, que significa trabalho, considerando que a
pessoa que trabalha compulsivamente também é viciada, porém, em trabalho. Além
de prover o sustento, o trabalho compulsivo pode também ser utilizado como fuga
de sentimentos difíceis de serem vivenciados, aliviando a angústia, mas
temporariamente. Com o tempo, esse escudo protetor -o trabalho compulsivo- pode
se romper ao surgir alguma doença com o objetivo, inconsciente, de enfrentar
aquilo do que fugiu.
Normalmente,
uma pessoa que trabalha compulsivamente possui algumas características:
-
trabalha compulsivamente, mesmo quando não há necessidade;
-
trabalha o tempo todo e deixa de lado a família e o lazer;
-
fica ansiosa e sem saber o que fazer longe do trabalho, como nas férias e nos
finais de semana;
-
não sabe falar de outra coisa a não ser do trabalho;
-
cobra dos demais o mesmo ritmo e produtividade que está acostumada;
-
critica constantemente os colegas de trabalho;
-
exige perfeição, dedicação e devoção ao trabalho, como ela própria se exige;
-
é severa, ambiciosa, inflexível, perfeccionista e exageradamente
"realista";
-
racionaliza tudo;
-
oculta seus próprios sentimentos;
-
nega para si mesma a existência de algum conflito;
-
freqüentemente tem problemas de saúde, sendo forte candidata ao infarto e
outras doenças relacionadas ao estresse;
-
busca reconhecimento, muitas vezes dos pais, que em geral foram ou são, muito
exigentes.
Como
podemos observar, o trabalho acaba por ser uma válvula de escape de uma
insatisfação perante a vida. Ser "bem sucedido" implica em ter
conquistado uma boa qualidade de vida, o que o workaholic dificilmente possui,
pois trabalha de forma compulsiva e na maioria das vezes, desnecessária, e
dificilmente consegue obter prazer em outra atividade que não seja ligada ao
trabalho. A preocupação obsessiva é procurar sempre corresponder às
expectativas dos outros, ou ainda, superar essas expectativas, o que gera muita
cobrança interna e conseqüente tensão. Até as atividades de lazer, quando as
têm, são feitas obsessivamente. Não faz exercícios para relaxar, ao contrário,
cumprem religiosamente a mesma rotina, controlando os horários e tempo de cada
atividade. Geralmente justifica sua rigidez dizendo-se disciplinado e não
obsessivo. Está sempre se cobrando produzir, mesmo quando vai à praia, ao invés
de relaxar, permitir-se fazer nada, está sempre lendo algo, ou até mesmo, dando
telefonemas "inadiáveis". Seu objetivo é produzir, esteja onde for.
A
obsessão com o trabalho surge em função de outras insatisfações e conflitos,
mas prefere trabalhar a ter que se confrontar com aquilo que sente dentro de
si. Por exemplo, uma pessoa que está passando por alguma dificuldade conjugal,
familiar ou pessoal, pode substituir as horas em família por ficar até mais
tarde no escritório, ainda que não tenha nada para fazer. Ou seja, não convive
com a família, com pessoas queridas, não acompanha o crescimento dos filhos,
sequer percebe o cuidado ou a presença do companheiro(a), não tem horário para
almoçar, nem para atividades físicas, lazer, enfim, não tem tempo para si
mesmo, muito menos para manter o diálogo interno e identificar a causa de seus
reais conflitos. O que deveria ser prioridade acaba cedendo lugar apenas para o
trabalho.
O
lamentável de tudo isso é que as pessoas entram num círculo na busca pelo
poder, prestígio e aquisição de bens materiais, mesmo sabendo que tudo isso
pode ser pago com sua própria saúde. Infelizmente, essa busca incessante se faz
muito mais para satisfazer aos outros do que a si mesmas, numa busca
inconsciente por reconhecimento. O que dificilmente é aceito.
Todos
sabemos que hoje em dia é praticamente impossível vivermos sem ansiedade e
estresse, mas podemos aprender a lidar com as situações geradoras de tensão ao
nos permitirmos relaxar, praticar atividade física, ter momentos para
simplesmente fazer nada e nem por isso nos sentirmos culpados. Evite fazer do
trabalho sua única razão de viver, principalmente se perceber que ele pode ser
uma fuga para evitar o confronto com seus próprios sentimentos. Procure
equilíbrio entre o seu trabalho e outras áreas de sua vida, sem que com isso
tenha que abdicar de tantos outros valores, tão ou mais importantes, como uma
maior convivência com aqueles que ama, e principalmente, consigo mesmo. Buscar
a ética, qualidade, responsabilidade e excelência no trabalho deve ser a meta
de todos nós ao fazermos o melhor que podemos, mas não podemos confundir esses
valores quando percebemos que estamos prestes a perder nosso bem mais precioso:
a saúde!
Rosemeire
Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e
especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se
no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.